A EDUCAÇÃO NO BRASIL: possibilidades e perspectivas.

Francisco Carlos Machado Alves
A educação no Brasil vai de mal a pior. Somos um dos últimos países no quesito qualidade da educação. De uma relação de 40 países ranqueados, figuramos na incômoda posição de 39º, à frente apenas da Indonésia. Esta lista é encabeçada pela Finlândia, seguida pela Coreia do Sul e, (quem diria?) Hong Kong.
A situação não parece melhor, se ampliarmos o leque, incluindo aí outros países. Segundo o PISA – Programme for International Student Assessment, que em português, foi traduzido como Programa Internacional de Avaliação de Alunos/as, o Brasil ocupa a 53º posição em educação, entre 65 países avaliados. Mesmo com o programa social que incentivou a matrícula de 98% de crianças entre 6 e 12 anos, 731 mil crianças ainda estão fora da escola (IBGE). O analfabetismo funcional de pessoas entre 15 e 64 anos foi registrado em 28% no ano de 2009 (IBOPE); 34% dos/as alunos/as que chegam ao 5º ano de escolarização ainda não conseguem ler (Todos pela Educação); 20% dos/as jovens que concluem o ensino fundamental, e que moram nas grandes cidades, não dominam o uso da leitura e da escrita (Todos pela Educação). Professoras e professores recebem menos que o piso salarial previsto na Constituição Federal de 1988.
Nossos/as alunos/as, ao final de seus estudos Fundamental e Médio, leem com dificuldades, falam sem a conjugação correta necessária dos verbos, escrevem mal e, se leem, também não conseguem interpretar o texto lido. É muita precariedade para quem passa pelo menos 12 anos de suas vidas, frequentando os bancos de uma escola.
Não são poucos os programas implantados pelo MEC: “Mais Educação”, “Alfabeletrar”, “Todos Pela Educação”, para ficar apenas nestes três exemplos. A cada dia, novos programas são criados, sem que o anterior tenha sido avaliado para ver se, de fato, atingiu os objetivos para os quais foram criados. Não é a criação de novos programas que irá trazer resultados significativos e que, por ventura, venham reverter o quadro caótico da educação no Brasil.
O problema, portanto, não é a falta de programas, talvez o excesso deles, inflacionando por demais o campo educacional, sem que os/as professores/as colham os frutos que tais programas se propõem. Antes de programas, necessário se faz que os/as educadores/as tenham uma mudança de atitude. Basta saber que, para muitos destes, a educação vai muito bem, obrigado.
Juntamente com a mudança de atitude, vem a qualificação profissional. Sem que haja investimento na formação docente, dificilmente se conseguiria alcançar patamares desejáveis para educação. Qualificação no estudo inicial e na formação continuada de professoras e de professores para se tornarem aptos a enfrentar o desfio de construir uma educação de qualidade social.
Educar é um Ato Político, já nos asseverava Paulo Freire alguns anos atrás. A qualidade social da educação passa necessariamente pelo contexto sociopolítico da educação. Entretanto, se formos observar mais detidamente, a consciência política de nossos/as educadores/as é fraca, para não dizer inexistente. Não se percebe claramente esta consciência aguçada de nossos/as educadores/as em sua prática cotidiana em sala de aula. Ao contrário, chega a ser simplório o discurso dos educadores/as em suas reflexões políticas. Envolvimento nas questões sociais, então, nem se fala. Poucos de nossos/as professoresa/as têm um engajamento político fora dos muros da escola, seja nos sindicatos, partidos políticos ou nos movimentos sociais. Não é a toa que nas rodas sociais que livremente se forma, o assunto predominante é o das novelas ou dos realities shows do momento.
È preciso que haja, portanto, um investimento significativo na formação destes/as professores/as. Formação intelectual e também política. As instituições criadas para cuidar da formação continuada precisam também passar por este processo, já que os professores/as formadores/as que aí estão padecem das mesmas limitações. Talvez por este motivo, grande parte deles não participa dos movimentos de reivindicação pela melhoria das condições de trabalho e da educação como um todo.
Há bem pouco tempo atrás, nós professores éramos formadores de opinião. Referência para os alunos e alunas que viam no seu professor aquele que dominava, não somente os conteúdos da disciplina, mas também da sociedade e da vida pública do país. Hoje, não se pode dizer que é que assim acontece. Como a grande maioria dos/as professores/as não tem tempo para a leitura ou esta não faz parte de seu objeto de estudo, sua consciência política é construída pelo que veem nos telejornais ao final de cada dia. Se bem que alguns nem isso, pois seria perda de tempo ver noticiários. Desta forma, o produto final são alunos/as com visões periféricas da realidade à sua volta sem a profundidade necessária, já que seus “mestres” não primam pelo aprofundamento da reflexão. E depois não sabemos por que a educação vai mal no Brasil.

P.S.
(por Luís Claudio – CPT Araguaia / Equipe de Comunicação AXA): 2ª Conferência Nacional de Educação – CONAE 2014
A ser realizada no mês de fevereiro de 2014, em Brasília-DF, será um momento especial na história das políticas públicas como espaço de deliberação e participação coletiva, envolvendo diferentes segmentos, setores e profissionais interessados/as na construção de políticas autenticas. Precisamos nos apropriarmos do tema, como seres políticos, pois, nos interessa. Por todos os lados acontecem conferências preparatórias e livres, municipais e /ou intermunicipais, do Distrito Federal e estaduais de educação, terá como tema central O PNE na Articulação do Sistema Nacional de Educação: Participação Popular, Cooperação Federativa e Regime de Colaboração. Estejamos também atentos/as a ocupação de espaços políticos participativos a serem nos Comites Interinstitucionais de Educação do/no Campo, recém criados em Porto Alegre do Norte e em Confresa, bem como no Comite Estadual, do Fóruns de EJA (Educação de Jovens e Adultos), como espaços conquistados, como possibilidade de atuação política em vista a valorização da Educação do Campo e no Campo.
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 Licenciatura Plena em Filosofia pela PUCAMP – Pontifícia Universidade Católica de Campinas e Bacharel em Teologia pelo Instituto Teológico ao Paulo. Chico, como o chamamos carinhosamente, também é um grande companheiro na defesa do Araguaia, atua na Educação Indígena (Cefapro são Félix), Agente Pastoral da Prelazia de são Félix do Araguaia – MT (acréscimos nossos – Equipe Comunicação AXA)

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