Por: Telma Aguiar
Educação Ambiental é o tema da moda. Atualmente há propaganda de todo tipo de coisas e organizações com o slogan de ecologicamente correto, sustentável ou outras palavras que carregam o mesmo sentido. Mas, durante uma visita a regiões turísticas do estado de Mato Grosso o visitante pode se perguntar sobre o significado real dessas palavras nas atitudes das pessoas.
Mato Grosso tem locais com alto potencial turístico, a exemplo das praias que se formam nas margens do Rio Araguaia em certas épocas do ano e o circuito de rios, lagos e cachoeiras das cidades da região central do estado. Em alguns casos esses locais já estão em plena exploração comercial (com ou sem parcerias público privadas) e em outros com pouca ou nenhuma.
Há, entretanto, outros lugares, como os parques estaduais, que são abertos a visitação e preocupam por causa do descarte inadequado de lixo, porque depois que os turistas se vão, não há pessoas responsáveis por fazer a limpeza do local.
Pra não falar das outras inquietações com outros problemas ambientais como os gerados pela produção de grãos em grande escala ou com a retirada de fragmentos da fauna, flora e rochas pelo homem, por exemplo, vamos nos ater apenas ao lixo de cada dia.
Como exemplo de local sem ou com insuficientes cuidados pós-visitantes falaremos da Cachoeira do Rio da Casca na cidade de Campo Verde, próximo a capital Cuiabá. Ela recebe banhistas todos os dias, lá não se paga para entrar, há apenas um bar na margem da rodovia onde é possível comprar bebida e comida. Depois que os banhistas se vão o rastro de lixo fica pelas trilhas e nas margens do rio. São dezenas de latas de cerveja, resto de comida, carvão para churrasco, embalagens plásticas, cigarros e até roupas e calçados.
Há um descaso por parte dos representantes políticos, que são eleitos para tomarem as providências nos casos em que os cidadãos comuns não podem agir sozinhos. No exemplo prático da cachoeira, o local carece de mais lixeiras, porque as duas metades de tambores e a caçamba na entrada da área não suportam o lixo de um dia de fim de semana.
Mas há também uma outra questão, o ser humano pode se responsabilizar por suas ações sem necessidade de punição ou cobrança, agindo simplesmente por amor ao chão que pisa, à água que mergulha. Atitudes de cuidado como recolher o lixo que produz podem surgir do próprio homem somente pela consciência de que ele é o agente de atitudes positivas ou negativas.
Vivemos o momento de maior acesso a informação na história da humanidade, em que há veículos como o rádio, a televisão e a internet, transmissores das mais variadas mensagens, considerados veículos de massa por atingirem a um público suficientemente grande. Observando os banhistas é possível perceber que a média se encaixa numa faixa etária entre 15 e 35 anos, provavelmente alfabetizados, já que o país passou por vários programas de acesso a educação nas últimas décadas. Portanto, conclui-se que estas pessoas estão aptas a decodificarem as mensagens de organizações sociais e governos que saltam aos olhos todos os dias nas mais diversas mídias dando dicas de preservação ambiental. Ou não, isto não é verdade?
Em Campo Verde há coleta seletiva de lixo nas ruas da cidade, o que se considera um grande passo porque possibilita a reciclagem e o descarte correto em aterros sanitários. A prefeitura tem funcionários que limpam as ruas e tem quem retire o lixo dos pontos de coleta da Cachoeira do Rio da Casca. Mas, como a coleta é feita somente em momentos específicos, tem aqueles resíduos que descem rio abaixo e os que se perdem por dentro da mata.
Não existe solução mágica para o problema das pessoas que não se responsabilizam por seu próprio lixo porque conscientização é feita com um amplo conjunto de medidas educativas visando à mudança cultural, e mudança de hábitos leva tempo. Mas, talvez já esteja na hora de irmos para um segundo estágio: além das medidas educativas, a punitiva. Talvez seja hora de os cidadãos começarem a sentir no bolso o peso de suas ações, descobrindo assim que não custa tanto levar de volta o próprio lixo produzido durante um passeio.
Nossos representantes, eleitos por nós para agirem quando não podemos sozinhos, talvez pudessem desenvolver mecanismos que permitissem a responsabilização dos que ainda não se preocupam com a própria sujeira. Por outro lado, os representados também não tem exigido o cuidado necessário com o lixo na maior parte das cidades do estado.
Num outro contexto, do Japão vem um bom exemplo. Lá o saco de lixo residencial tem um sistema de identificação, quem não separar lixo úmido do reciclável corretamente receberá a visita de um agente público pedindo que a pessoa refaça o processo de maneira correta.