Dia da Consciência Negra é comemorado em Porto Alegre do Norte – MT com oficina de música e noite cultural.
Por Dandara Morais/AXA
Este é o terceiro ano que a Educação de Jovens e Adultos da Escola Estadual Gilvan de Souza (EJA-EEGS) faz o evento e este ano contou com o apoio do Departamento de Cultura do município e das Escolas Estaduais e Municipais. A celebração faz parte do projeto do EJA-EEGS “Esta é minha raça, vista a minha cor” que trouxe à sala de aula a história da cultura afro-brasileira e africana, e a importância da cultura negra na formação da sociedade brasileira.

Bonecas produzidas por alunos do EJA-EEGS
Durante os dias 19 e 20 de novembro, houve exposição dos materiais produzidos pelos alunos do EJA-EEGS. Havia tapete em crochê, bonecas afros em cabaça, bonecas de lã e EVA, medicamentos naturais e quadros produzidos pelos alunos.
A noite foi animada por apresentações culturais das escolas estaduais e municipais. Cada escola buscou trazer um pouco da cultura africana e o misto brasileiro nas atividades, na primeira noite tivemos apresentações de Carimbó, declamação de poesia, coreografia da música Aquarela do Brasil e Rap.
Todos os anos é escolhido um homenageado, uma figura publica ou anônima que tenha importância na luta pelas causas sociais e raciais. Este ano a homenagem foi para professora Maria Benvinda, que faleceu em agosto deste ano, mas deixou como legado a luta por justiça, educação de qualidade, comprometimento social e ambiental, e liberdade. Loyhane Freitas e Justiniano Pereira foram os responsáveis pela homenagem, e o que fica é o carinho e respeito pela pessoa e profissional que Maria Benvinda foi para o Vale do Araguaia. Loyhane encerrou sua fala lembrando-se do último encontro das duas: “Professora, eu resolvi seguir seus passos, hoje estou dando aula de língua portuguesa, sou uma semente plantada pela Benvinda, que floresceu”.
Na segunda noite as apresentações continuaram, a abertura ficou por conta da dupla Male, (Maíra Ribeiro e Alexandre Lemos) e os meninos do PETI e do Força Jovem animaram a noite com uma seleção instrumental de vários compositores da Música Popular Brasileira. Na sequência, ocorreram apresentações de Capoeira, dança Maculelê, WakaWaka e mais danças afros.
Além disso, havia para o público comidas de origem africana, como tapioca, feijoada e bolo de mandioca. Foram duas noites intensas, onde a exaltação da cultura afro tomou conta do espaço, fazendo com que os presentes refletissem sobre a importância dos negros na história brasileira e a forte influencia da cultura africana no nosso dia-a-dia.
Esta é minha raça, vista a minha cor
O projeto “Esta é minha raça, vista a minha cor” surgiu com a Lei 10.639/03, alterada pela Lei 11.645/08, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o ensino médio. Desta forma, os professores do EJA-EEGS tem trabalhado em sala os conceitos e as diferentes formas de expressões culturais que envolvem a Cultura Popular, Cultura de Massa e Cultura de Elite.
A professora Loyhane Freitas comenta que “Este ano juntamos dois projetos o Esta é minha raça, vista a minha cor, com o projeto Economia Solidária, assim, trabalhamos com oficinas de produção de artesanato, doces, medicamentos naturais, e desta forma conseguimos que nossos alunos possam continuar os trabalhos em casa e ter uma renda extra.”
A E.E Gilvan de Souza trabalha em blocos, ou seja, as atividades são divididas por áreas de conhecimento, por exemplo, tem-se 200 horas para a área de Ciências Humanas que ficou responsável pela Oficina de Cabaças. Durante este período (mais ou menos 60 dias) é trabalhado a historicidade, a linguagem, a sociologia da linha afro e suas heranças deixadas para os brasileiros.
As aulas em blocos e com projetos são flexíveis e integrantes. Marilde Garbin, que trabalha na área das Ciências da Natureza diz que “Ficamos com a oficina de Medicamentos Naturais, com a química trabalhamos a composição química das plantas, a ciência estuda a formação dos seres vivos e vegetais. A história resgata os ensinamentos dos negros e o uso das plantas na cura.”
A aluna Edna Tavares, do 1º ano do ensino médio diz acreditar que após 20 anos longe da escola não teria forma mais fácil de aprender “Eu estudo no EJA e meus filhos na escola normal, eu vejo assim, não que eu aprenda mais, mas aqui é mais proveitoso, nós aprendemos a teoria e a prática e ainda os porquês de cada coisa”.
Edna fez um curso de panificação na escola o ano passado e hoje complementa a renda familiar com a venda deles, ela conta “No ano passado, fiz a oficina de panificação. Gente, quanta coisa que eu aprendi sobre pão e massas, nem imaginava, eu brinco que os pães que faço são mais saborosos, pois estão cheios de conhecimento (risos)”.
Justiniano Pereira Sales, professor da escola Gilvan de Souza lembra que o ensino da cultura africana é obrigatório nas escolas e o projeto surgiu com o objetivo de trabalhar este tema. “Já são 3 anos de projeto e hoje conseguimos consolidar a importância deste estudo, os alunos estão completamente envolvidos e nas rodas de debates percebemos o envolvimento e amadurecimento deles a respeito de temas antes vistos como secundários no ensino” explica Justiniano.
Fotos: Dandara Morais e Divanez Alves