Por: Raul Vico/ANSA
Em plena ditadura militar, época em que a região do Araguaia-Xingu estava marcada pela violência do latifúndio contra “posseiros”, peões e indígenas, um grupo de jovens da região se comprometiam com o trabalho em favor dos mais excluídos.
No dia 15 de agosto de 2014 se completou 40 anos desde que um grupo de pessoas ligadas à Prelazia de São Félix do Araguaia fundou a Associação de Educação e Assistência Social Nossa Senhora da Assunção, a ANSA. Era o ano 1974, as cidades da região eram apenas pequenos povoados isolados, cercados por grandes fazendas. O bispo, Dom Pedro Casaldáliga, descreveu como viviam as pessoas naquela época. “Povo simples e duro, retirante como por destino, numa forçada e desorientada migração anterior, com a rede de dormir nas costas, os muitos filhos, algum cavalo magro, e os quatro “trens” de cozinha carregados numa sacola. (…). Indiferentemente a tudo, eles vão ganhando o pão de cada dia, pois para eles só existem dois direitos: o de nascer e o de morrer”.[1]
No encontro realizado em São Félix do Araguaia, na sede da ANSA, no dia 15 de agosto, foram recordados esses primeiros momentos da associação, assim como os desafios enfrentados ao longo dessas quatro décadas. Jovens profissionais da ANSA, membros das diretorias atuais e passadas e uma boa representação dos fundadores,partilharam uma manhã de conversas e lembranças.

Amigos e parceiros partilham informações e experiências durante a comemoração dos 40 anos da ANSA. Foto: Raul Vico
A inspiração, a paixão e o compromisso radical da Irmã Irene Franceschini, que chegou na região em 1970, foi fundamental para a fundação da ANSA. Deuzete Celestino, um das fundadoras da ANSA,relembrou: “a professora Irene é que nos ensinou a fazer política, quem nos ensinou a sair de casa e participar”.
A inauguração da “Sala da Memória”, onde ficarão expostos os materiais e documentos mais relevantes da história da ANSA, foi cenário da afirmação do compromisso da Associação com as raízes da sua história, para enfrentar os desafios do futuro. Uma das fundadoras da Associação, Lindaura Paiva Amorim, situou esse momento simbólico. “Queria pedir que as pessoas não esquecessem que aqui foi um trabalho duro, não foi fácil.Não se esqueçam que a gente deu o sangue, então, gostaria de pedir para pessoal que trabalha aqui para que não esqueçam que aqui foi uma luta. Uma luta que hoje é de vocês, é minha e é nossa”, afirmou.
Após as mensagens que os/as fundadores/as das ANSA transmitiram para as novas gerações e para os mais de 50 amigos que se estiveram presentes na comemoração do aniversário da ANSA. Deuzete Celestino finalizou o encontro lembrando as palavras da irmã Irene. “Tia (como era carinhosamente chamada) Irene sempre nos dizia: Vamos perseverar. Se queremos, temos que ter perseverança na luta. Vamos então perseverar, confiar, caminhar e lutar”.
[1] “Uma Igreja da Amazôniaemconflitocom o latifúndio e a marginalização social”. Pedro Casaldáliga. (1971) Pode se ler a carta pastoral em http://servicioskoinonia.org/Casaldaliga/cartas/1971CartaPastoral.pdf