O que você faz em dois minutos? Liga o computador e espera iniciar ou enche um copo de água e dá o primeiro gole. Dois minutos é um tempo que passa rápido. Mas para algumas mulheres, vai passar lento. A cada dois minutos, duas mulheres são espancadas no Brasil (FPA/SESC, 2010). Ao final da leitura deste texto, quantas terão sido espancadas?
Por Lilian Brandt /AXA
Entre 2000 e 2010 foram assassinadas 43,5 mil mulheres no Brasil. Destas, 41% foram mortas em sua residência, muitas por companheiros ou ex-companheiros, que são responsáveis por mais de 80% dos casos reportados. Com a taxa de 4,6 assassinatos por 100 mil mulheres, nosso país ocupa a sétima posição mundial de assassinatos de mulheres (Instituto Sangari, 2012).
A presidente Dilma sanciona hoje, 09 de março, o Projeto de Lei 8305/14, do Senado, que considera homicídio qualificado o assassinato de mulheres em razão do gênero, o chamado feminicídio. A nova lei modifica o Código Penal para introduzir um novo crime e reforma a chamada Lei Maria da Penha, destinada a combater a violência doméstica e de gênero que entrou em vigor em 2006.
A pena prevista para homicídio qualificado é de reclusão de 12 a 30 anos. O texto aprovado também inclui esse homicídio no rol de crimes hediondos, o que impede que os acusados sejam libertados após pagamento de fiança.
Mulheres: amem-se!
Outra violência a qual as mulheres são submetidas é a do padrão estético. O estudo The Real Truth About Beauty: Revisited concluiu que 96% das mulheres do mundo não se consideram bonitas, 72% das meninas se sentem extremamente pressionadas a ser bonitas e 80% das mulheres concordam que toda mulher tem algo que é lindo, mas não consegue ver sua própria beleza.
Pesquisas apontam que as brasileiras estão entre as mulheres com mais baixa auto-estima. Ao mesmo tempo, Brasil apresenta o maior índice de mulheres que declaram ter feito cirurgia plástica.
Outros estudos revelam que a população feminina no país, comparativamente, é a que mais se submete a sacrifícios pela aparência. Isto inclui dietas, malhação, remédios e cosméticos. Somente em 2003, as brasileiras gastaram R$ 17 bilhões na compra de produtos cosméticos e de perfumaria. E provavelmente continuam não se achando bonitas.
Somos todas feministas
Antes que alguém se manifeste, saibam: feminismo não é o contrário de machismo. Machismo é um sistema de dominação, uma ideologia que paira sobre nossa sociedade. Feminismo é uma luta por direitos iguais. Os dois termos não são análogos. Feminismo não prega ódio e a dominação das mulheres sobre os homens. Feminismo clama por igualdade, pelo fim da dominação de um gênero sobre outro. O inimigo do feminismo não é o homem em si, mas a estrutura machista da nossa sociedade.
Você concorda que mulheres não podem ser espancadas ou mortas por não quererem continuar em um relacionamento afetivo? Se você respondeu “sim”, já é meio caminho para ser feminista. Lutamos por coisas básicas: receber salários iguais para realizar o mesmo trabalho, liberdade de escolha profissional, divisão dos trabalhos domésticos com os demais moradores da casa, enfim, a simples consideração que as mulheres são tão pessoas quanto os homens.
Faça o teste para saber se você é feminista!
Homens: libertem-se do machismo!
Por que um homem abriria mão de seus privilégios em uma sociedade machista? Porque o machismo também o oprime. Somos todos, homens e mulheres, vítimas dessa construção social. Homem não pode chorar, tem que gostar de luta e estar sempre pronto para brigar. Homem tem serviço militar obrigatório e não pode dispensar uma mulher que demonstre interesse, afinal, macho tem que ser “pegador”. Homem tem que pagar a conta e tem que garantir o sustento do lar.
Ao contrário do que muita gente pensa, estas diferenças entre homens e mulheres não são naturais ou biológicas. Elas são construídas socialmente e perpetuadas a cada geração. Se o homem não quiser seguir a cartilha do machão, ele vai sofrer discriminação. E se seguir, vai sofrer por não poder amar e não poder chorar.
Com a intenção de libertar homens do machismo, o coletivo mo[vi]mento-MG/RJ e o grupo The Living Theatre, de Nova Iorque, criaram a campanha Homens Libertem-se.
Ações no Araguaia
Barra do Garças
A Rede de Enfrentamento da Violência Doméstica, em Barra do Garças, completa em 2015 dois anos de atividades e já realizou até o momento capacitações para mais de 200 agentes de atendimento direto nos municípios de Barra do Garças, Pontal do Araguaia, Araguaiana, General Carneiro, Torixoréu e Ribeirãozinho na abordagem junto às vítimas de violência doméstica.
Em fevereiro foram realizadas capacitações para membros da Rede e profissionais da Segurança Pública dos municípios que compõem a Comarca de Barra do Garças. Além de atividades educativas, a Rede de Enfrentamento reorganizou o fluxo de atendimento às mulheres em situação de violência e agressores.
No mês de maio será lançado o edital da 2ª Mostra de Vídeo Estudantil que busca incentivar a reflexão sobre a violência doméstica contra a mulher por estudantes do ensino fundamental, médio e superior. Para o segundo semestre, ainda estão previstos capacitações e atividades nas unidades escolares.
São Félix do Araguaia
O Inhurafê – Instituto Humano Raça Fêmina realizou uma atividade no dia 8 de março na Câmara Municipal. Foi exibido o filme Revolução em Dagenham, que mostra a luta das mulheres por salários iguais aos recebidos pelos homens na Inglaterra em 1978. Depois houve um debate, com a participação de 30 mulheres.
O evento inaugurou o projeto “Cinema: arte, cultura e cidadania” do escritório de advocacia da Prelazia de São Félix do Araguaia, que exibirá filmes para adultos, jovens e crianças.
A presidente do Inhurafé, Maria José Souza Moraes, conhecida como Zezé, destacou que a luta das mulheres não é por direitos iguais, mas sim por direitos específicos, que respeitem as diferenças das mulheres, especialmente em relação à maternidade. “Ser feminista é ser consciente de ter direitos”, disse.
No debate, as mulheres falaram sobre a importância da mulher lutar, porque muitas vezes o machismo está dentro de nós mesmas. “Por mais que nossos maridos digam que estão ajudando em casa, eles não estão ajudando, estão apenas fazendo a obrigação deles”, disse uma participante.
Denuncie
Se você tem alguma dúvida sobre direitos e serviços públicos para a população feminina ou quer fazer uma denúncia, você pode ligar gratuitamente para a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180.
Imagens extraídas do curta-metragem Supervenus. Assista ao vídeo aqui!